Camile, deslizou os dedos sobre seu cabelo, enquanto relia
em voz alta, o poema Solidão, de Cecília Meireles.
- Imensas noites de inverno, com frias montanhas mudas.
Este poema era o seu preferido nos últimos dias, suas preferencias
mudavam constantemente e a solidão era algo que lhe encantava
assustadoramente.
Camile, residia distante de toda sua família, se tornou
bibliotecária de um colégio, na região mais pobre de São Paulo. Lá ela se
deparou com muitas histórias tristes, meninas e meninos que tinham família
desestruturada e um destino cruel, o crime, as drogas. Cada história que ouvia,
ela guardava na sua estante de lamentações, que nada mais era do que sua
memória.
Ela possuía memoria eidética, lembrava de cada momento de
sua vida, com uma grande quantidade de detalhes, desde as coisas mais
relevantes até as menos, como no dia em que derrubou achocolatado no seu
caderno de matemática e a mancha se espalhou por quase todo seu caderno
deixando apenas duas folhas livres e o dia em que uma abelha pousou em sua
testa e ela ficou paralisada.
Sua estante era cheia de histórias e estórias, estórias das
quais por vezes ela se deparava no seu dia-a-dia, então ela movia aquele livro
pra prateleira de ‘não ficção’, cada livro era uma vida.
Em sua casa havia também uma estante de livros, mas aquela
tinha apenas quatro livros, muitas vezes ela ficava sentada em seu sofá
listrado, olhando pra estante vazia, e desejando que sua estante mental fosse
de tal forma.
Em um domingo a tarde, sentada no sofá, teve a ideia de
preencher aquelas prateleiras, mas não com livros já publicados e sim os livros
(vidas) que ela mantinha na sua memória, pegou um pequeno caderno que estava em
branco, e escolheu a sua primeira história, escreveu a tarde toda, até meia
noite. E lá estava sua primeira história, “A solidão da cidade.” , contava a
história que presenciou quando tinha dezessete anos, uma mulher pedia
informação, estava perdida e sozinha, e todos a ignoravam, o olhar dela estava
ficando marejado e seu desespero era evidente, até o momento em que foi
assaltada e então os policiais apareceram. Ela observou tudo isso de longe,
pensou em ajuda-la mas era nova na cidade e não sabia se adiantaria de algo,
mas o que a entristecia era todas aquelas pessoas que ignoravam a mulher, que
poderiam ajuda-la, mas estavam muitos ocupadas pensando em si mesmas,
caminhando com pressa para chegar em seus empregos.
Passados dois meses, haviam cerca de onze livros em sua
estante, todos escritos por ela e quando sentada no seu sofá, não via mais o
vazio na estante, via pessoas, situações reais, via a humanidade que se tornava
cada vez mais desumana, mas sua estante mental, estava sendo esvaziada aos
poucos e preenchida da mesma forma, pois cada dia era uma nova história, uma
nova tragédia, enquanto houvesse vida, haveriam livros, histórias e Camile não
estaria sozinha.
Escrito por: Andréia Freire.
oi Andreia! Aqu é a dona do ask @higinogiane (Warrior's Descendant). Parabéns pelo ótimo conto =)
ResponderExcluirOlá, Giane! Muito obrigada! <3
ExcluirEncantador! <3
ResponderExcluirObrigada! <3
ExcluirA minha memória é péssima, queria ter uma memória boa como a dela (♡˙︶˙♡).
ResponderExcluirSim, porém as vezes lembrar pode se tornar um pesadelo.
Excluirmais do que perfeito, em poucas linhas me fez pensar.. um grande beijo de alguém que te admira muito :)
ResponderExcluirMuito obrigada! :D Outro.
ExcluirSimplesmente incrível, Andréia! <3
ResponderExcluirObrigada, Ana! <3
ExcluirBelíssimo conto. *-*
ResponderExcluirPor: _Ninguém_
[Ask]
Nossa, que incrível! Lindo conto, muito comovente que me prendeu bastante! <3
ResponderExcluirFabrício Santos @Alienimaginator (Ask)
Gostei bastante, muito encantador
ResponderExcluirMaravilhoso o texto, minha querida. A triste realidade que muitos de nós enfrentam.
ResponderExcluirLindo texto! Encantador, parabéns. @podemechamardefeia \ask.
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