Traição

Escrever sobre traição, não é algo simples, não convém julgamento, mas sim compreensão, como em tudo que passamos, é preciso compreensão pra mais rápido superar, dar novos passos, seguir.
Eu já estive dos dois lados, fui traída e trai, não pense que minha traição foi por vingança, foi maior que isso, eu acredito que vingar-se é uma autodestruição típica.
Muitas vezes eu me autoquestionei “O que leva alguém a trair?”, e nas minhas conclusões só havia um motivo: tolice.
Quando fui traída, me senti insuficiente. A traição não foi uma descoberta, foi uma confissão, ouvi da boca dele as duras palavras: Eu te trai.  Não questionei os motivos, não haviam palavras, somente um grande desconforto no estomago, enjoos fortes e raiva. Senti raiva por um longo tempo, raiva e vergonha por ter sido traída, mas analisando aquilo, eu sei que não deveria sentir vergonha, ele deveria, pois foi ele que me traiu, enganou, ele que mostrou sua falha de caráter, ele poderia muito bem ter me dito que estava afim de outra pessoa, não é mesmo? Infelizmente não, e aprendi isso quando trai.
Eu nutria um sentimento enorme e verdadeiro por meu namorado de longos anos, mas naqueles últimos meses eu estava mais acomodada no relacionamento, do que verdadeiramente nele, me sentia cansada, porém quando cogitava um termino, eu lembrava de todos momentos vividos e de tudo que perderia, perderia meu porto seguro. E este é o motivo que muitos relacionamentos acabados seguem adiante por longos anos, estar acostumado a algo, a alguém, a uma pessoa que esta sempre lá.
A minha traição não foi premeditada, ela simplesmente aconteceu. Estava eu, com alguns amigos em uma balada, então conheci um amigo de um amigo, conversamos pouco ao longo da noite, mas nossos olhares sempre se esbaravam, então ele pediu para que eu fosse tomar um ‘ar’ com ele, na hora fiquei indecisa, na minha mente passava “Vou, não vou, vou, não vou” e meus passos me levaram a acompanha-lo. Lá fora, a conversa era empolgante, ele me atraia, meus sentimentos acomodados estavam incrivelmente vivos, poderia até dizer que estavam saltitando em mim, mas enfim, nos beijamos, no primeiro beijo foi inevitável meu pensamento: Estou traindo meu namorado! Um sentimento de culpa passou pelo meu corpo, mas logo a seguir, eu o esqueci e foi ai que brotou a coragem de terminar com meu namorado.
Percebi naquela noite que me sentiria confortável com outras pessoas, em outros relacionamentos e que já que os sentimentos haviam se desgastado no relacionamento em que eu estava e que não havia precisão de eu estar com ele, acabei por terminar o namoro.  
Tendo um porém, eu não contei sobre a traição! Parece egoísmo, não é? Mas eu não achei que fosse necessário, pois aquilo apagaria todos momentos bons que havíamos vivido, conhecendo o ser humano como conheço, eu sabia que ele iria pegar a traição, abraça-la e sempre argumentar sobre, quando tocado no meu nome, para muitas pessoas  uma atitude ruim, apaga milhões de atitudes boas e ele era um desses.
Depois de ter traído, percebi que não é apenas falha no caráter, é sinal de que algo não vai bem. A traição pra mim, quando a cometi, foi como um passo para frente, libertando assim o outro ser que estava envolvido em uma relação sem futuro.
Em um passado não muito distante, quando eu pensava em traição eu logo pensava em coisas terríveis, sentia raiva, hoje eu compreendo, talvez porquê estive dos dois lados.
Você acha que trair é correto? Obviamente que não, mas hoje eu tenho total compreensão sobre, não trato a traição como um monstro, como algo imperdoável, como o fim. A traição pra mim pode ser o começo de uma nova história, um modo de se libertar da acomodação e de uma relação fracassada.
Mas vale lembrar, que trair uma vez é de certa forma aceitável, nem sempre quem traiu vai trair sempre, porém estar em um relacionamento e estar traindo sempre é uma falta de vergonha imensa.

E pra você leitor/leitora, o que a traição representa? Já foi traído ou traiu? Perdoaria traição?


Escrito por Andréia Freire.

Síndrome de Capgras

Encontrar uma relação amorosa verdadeira e duradoura é demasiado difícil, mas e se  a pessoa por quem você nutre um grande sentimento acreditasse cegamente que você é um impostor? Que você substituiu o seu próprio lugar?
Davi e Jane, estavam apaixonados, foram nove anos de um belo romance, até que certo dia Jane, entrou em uma colisão nada acidental com um ônibus. Jane, estava com inicio de depressão não detectada, por seus familiares e principalmente por Davi, todos ficaram surpresos quando o ‘acidente’ aconteceu, e ainda mais surpresos quando foram informados que não havia sido acidental.
Jane, recuperou-se muito bem (aparentemente) e teve toda atenção de seus familiares e principalmente de Davi, que tentava dialogar diariamente com ela, mas ela cada dia distanciava-se dele. Jane ia a psicóloga toda semana, mas não falava muito e apenas dizia, que aquilo havia sido uma grande besteira, que jamais iria se repetir.
Jane, escrevia todos os dias em um diário, que escondia embaixo de um amontoado de livros.
Certo dia Davi, procurando um livro que havia pegado emprestado de um conhecido, encontrou o diário, pensou em não lê-lo pois era algo particular, porém devido as circunstancias acabou por ler.
Descobriu toda tristeza que Jane carregava e também todo amor que ela tinha por ele, mas ao ler a primeira pagina que ela escreveu após o acidente, ficou intrigado, em letras grandes ela havia rabiscado:
Onde esta, Davi?
Ele mesmo se questionou onde estaria naquele momento, e ao ouvir a porta da frente se abrindo ele guardou o diário no mesmo lugar onde encontrou-o. Jane entrou na pequena sala, e ao vê-lo sentado no pequeno sofá, expressou um pequeno susto.
As conversas se tornaram raras, e Davi começará pensar que Jane não amava-o mais. Ela passou a dormir no sofá, evita-lo diariamente.
Jane decidiu viajar com sua família, e Davi não poderia ir pois trabalhava o dia todo.
Chegando em casa, em plena sexta-feira, Davi foi até a estante procurar pelo diário de Jane, e ele estava lá, continuou lendo os pensamentos de Jane, e ficou sem reação ao notar que ela acreditava que ele não era ele, que ele era um impostor, e que ela tentaria encontra-lo aonde se conheceram e então quando chegaria em casa iria desmascara-lo. Aquela viajem não era uma simples viajem, era Jane tentando encontra-lo. Mas ele estava lá, na casa onde foram muito felizes e Jane não encontraria ele em outro lugar. Davi, decidiu ligar pra mãe de Jane e informar sobre o ocorrido, ela ficou chocada, pois sua filha não apresentava essa confusão, nem distanciamento com ela e nem com outros na viajem e em momento algum após o acidente.
Davi prontamente procurou um psiquiatra que ao ouvir a situação de Jane ficou estarrecido, e seu diagnostico foi Síndrome de Capgras, mais conhecido como Delírio de Capgras, onde o individuo acredita que um objeto, pessoa, foi substituído por outro idêntico.  
Jane, foi internada em um clinica psiquiátrica no mesmo dia em que regressou para sua casa, Davi sentia-se impotente diante daquela situação, seu amor estava diante dele e não conseguia acreditar que ele era ele mesmo, que ele não era uma copia.
Davi ia todos os dias a clinica, visita-la, tentar um contanto de proximidade, na maioria deles foram em vão, mas alguns poucos foram intensos, ela o reconhecia e até o abraçava, porém depois de alguns minutos ela dizia que algo não estava certo, que ele estava enganando a todos.
Jane, não conseguia acreditar que Davi era Davi, e com todos os outros ela mantinha a mesma relação,  então Davi resolveu se afastar, ter noticias dela apenas de longe, e com o passar do tempo Jane desconfiava que sua sombra havia sido trocada, que as paredes não eram as mesmas.

A Síndrome de Capgras é pouco conhecida, mas ela existe e em alguns casos é irreversível, tal como foi para Jane.

Escrito por Andréia Freire.

Alucinação


 Ouvia-o, sua sombra era visível, sua aparência graciosa, mas quando iria toca-lo, ele se afastava e dizia ter que ir para qualquer lugar e que logo voltaria. Ele existia, mas não estava lá, não pra nós. Alucinação.
Ele garantia seu bem estar, a protegia da realidade, causando imenso contentamento em sua vida, mas ele pedia que guardasse segredo sobre sua existência, as pessoas de fora eram maldosas e diriam que ele não era real, iriam destruí-lo. E olhando fixamente nos  olhos dela:
- Você confia em mim? Eu realmente existo não é?
- Sim, eu confio, sim. Você existe, você é minha maior alegria e esta comigo desde pequena, claro que você existe, que besteira.
Ela podia sentir o perfume que ele usava, uma essência de café, de tarde chuvosa.
E jamais comentou com qualquer pessoa sobre a existência dele, quando a questionavam sobre seus relacionamentos, a voz dele ecoava na sua mente “Não conte sobre mim, jamais”, então ela apenas comentava algo sobre estar bem.
De inicio, com quinze anos, ela conversava em seu quarto com um amigo, e quando sua mãe questionava com quem ela estava conversando, ela dizia que estava no celular, no inicio ela sabia que ele não era real, mas com o passar do tempo, sua mente criou algo maior, não era apenas uma voz, ele havia criado uma aparência física, e tinha suas próprias vontades. Ela acabou esquecendo que ele era apenas alguém idealizado por ela, ele se tornou constante.
Mas analisando de fora, ele era apenas alguém criado pela mente dela para mantê-la segura, ele era a base dela, ele existia e ela existia por causa dele.
Ela acabou imersa em uma alucinação, que criou quando adolescente e como ela mantinha segredo, ela jamais seria tirada de lá e ele dela.

Com alguns sentimentos fazemos o mesmo acreditamos que ele exista, e ele realmente existe, mas apenas para si mesmo, despertar dessa alucinação sentimental é terrível, mas claramente necessário.
 O que você prefere a doce alucinação ou a amarga realidade?


Escrito por: Andréia Freire.

A estante


Camile, deslizou os dedos sobre seu cabelo, enquanto relia em voz alta, o poema Solidão, de Cecília Meireles.
- Imensas noites de inverno, com frias montanhas mudas.
Este poema era o seu preferido nos últimos dias, suas preferencias mudavam constantemente e a solidão era algo que lhe encantava assustadoramente. 
Camile, residia distante de toda sua família, se tornou bibliotecária de um colégio, na região mais pobre de São Paulo. Lá ela se deparou com muitas histórias tristes, meninas e meninos que tinham família desestruturada e um destino cruel, o crime, as drogas. Cada história que ouvia, ela guardava na sua estante de lamentações, que nada mais era do que sua memória.
Ela possuía memoria eidética, lembrava de cada momento de sua vida, com uma grande quantidade de detalhes, desde as coisas mais relevantes até as menos, como no dia em que derrubou achocolatado no seu caderno de matemática e a mancha se espalhou por quase todo seu caderno deixando apenas duas folhas livres e o dia em que uma abelha pousou em sua testa e ela ficou paralisada.
Sua estante era cheia de histórias e estórias, estórias das quais por vezes ela se deparava no seu dia-a-dia, então ela movia aquele livro pra prateleira de ‘não ficção’, cada livro era uma vida.
Em sua casa havia também uma estante de livros, mas aquela tinha apenas quatro livros, muitas vezes ela ficava sentada em seu sofá listrado, olhando pra estante vazia, e desejando que sua estante mental fosse de tal forma.
Em um domingo a tarde, sentada no sofá, teve a ideia de preencher aquelas prateleiras, mas não com livros já publicados e sim os livros (vidas) que ela mantinha na sua memória, pegou um pequeno caderno que estava em branco, e escolheu a sua primeira história, escreveu a tarde toda, até meia noite. E lá estava sua primeira história, “A solidão da cidade.” , contava a história que presenciou quando tinha dezessete anos, uma mulher pedia informação, estava perdida e sozinha, e todos a ignoravam, o olhar dela estava ficando marejado e seu desespero era evidente, até o momento em que foi assaltada e então os policiais apareceram. Ela observou tudo isso de longe, pensou em ajuda-la mas era nova na cidade e não sabia se adiantaria de algo, mas o que a entristecia era todas aquelas pessoas que ignoravam a mulher, que poderiam ajuda-la, mas estavam muitos ocupadas pensando em si mesmas, caminhando com pressa para chegar em seus empregos.

Passados dois meses, haviam cerca de onze livros em sua estante, todos escritos por ela e quando sentada no seu sofá, não via mais o vazio na estante, via pessoas, situações reais, via a humanidade que se tornava cada vez mais desumana, mas sua estante mental, estava sendo esvaziada aos poucos e preenchida da mesma forma, pois cada dia era uma nova história, uma nova tragédia, enquanto houvesse vida, haveriam livros, histórias e Camile não estaria sozinha.


Escrito por: Andréia Freire.

Depoimento I

   Intensa era a palavra que melhor a definia, e talvez por isso tinha medos exagerados.
   Tinha mania de perseguição e talvez não fosse apenas mania, era o trauma que carregava, que levaria pelo resto de sua existência terrena.
   Aquele homem repugnante tentando  sufoca-la com suas mãos, o peso das mãos, a força bruta. As marcas que aquele ato deixou no rosto e na mente dela.
   Eram lembranças que levaria consigo, até onde a memória poderia lhe acompanhar. E por tal aguardava a velhice com ansiedade, para esquecer, ser abençoada com Alzheimer e por fim nas memórias trágicas que a acompanhavam dia após dia.
  Todos ao seu redor tinham conhecimento do  abuso que sofreu, poucos realmente acreditavam que ela era a vitima, a maioria acreditava que ela havia provocado tal coisa.
  Por tanto ela deixou de se importar, passou a ignorar os comentários maldosos.  Mas por vezes doía saber que pessoas que ela estimava, acreditavam que ela era culpada, que a vitima era o causador de tanta dor e angustia.
  A noite e as ruas vazias que outrora eram calmaria, se tornaram paranoia, em cada beco, esquina sem iluminação ela podia ouvir passos, sentir pessoas se aproximando, pessoas tentando  sufoca-la, mas nada estava lá. Somente o pânico, a dor, a fobia, a paranoia, o trauma.
  Sugeriram aos seus pais logo no inicio que a levassem a um psicólogo, mas ela se recusou e eles não insistiram. Ela preferiu não se aprofundar naquilo, mas aquilo sempre estava pairando sobre sua mente.
  Ela tentava evitar, mas a lembrança, o horror, estavam sempre lá, ao seu lado, talvez como uma forma de alerta. Alertando-a  sobre qualquer tipo de aproximação masculina.
  A sua vida havia se tornando um filme de terror, daqueles que ela sempre evitou assistir e agora presenciava em sua vida.
  A arte imita a vida, essa era sua conclusão de todos os dias.
  Mesmo sabendo que por vezes estava protegida, ela não conseguia sentir-se assim, sentia que a qualquer momento alguém a atacaria, em sua casa quando estava sozinha mesmo com as portas e janelas trancadas.
  A qualquer momento um homem com o dobro do seu tamanho e força conseguiria terminar, o que outro havia começado.
 O trauma, o medo, o bloqueio, o horror que carregava eram mais fortes do que tudo que lhe poderiam dizer, do que toda segurança que poderiam lhe garantir e mesmo assim para maioria ela não era a vitima.

E dia após dia ela se multiplica por ai.

Escrito por Andréia Freire.

Partiste

Surgiu a partida, após a conquista, pois depois de conquistado não há mais o que fazer, admirar o que foi conquistado com o tempo cansa, perde a beleza. E então partimos em busca de novas terras, e o que foi conquistado fica ali abandonado a solidão.
E meu bem,  a dor é muito mais forte para quem fica, pois quem parte vê novos horizontes, e quem fica vê apenas as cinzas do que foi e não será mais.
Olhar novos horizontes se torna extremamente belo,  quando chegamos a nova terra, que ira ser conquistada, sentimos a vigorosa brisa de renovação, usamos nossos truques e o mais belo palavreado, as mesmas antigas artimanhas,  cercamos a nossa nova terra adorada de atenção, sem nem mesmo ter um resquício em mente do que foi deixado para trás.
E quando perguntados de onde viemos, somos de lugar nenhum, para tornarmos aquele lugar mais especial ainda.
Após as duas palavras finais, tão esperadas, estamos partindo novamente.

Somos nômades de corações.

Escrito por Andréia Freire.
Imagem retirada do site We heart It.

O vazio persiste

Mesmo sabendo de todo desamor que habitava ali, Ane insistiu. Sentia-se capaz de afastar a dor, as lamentações e tornar aquele  um solo fértil. Decidida a afastar os corvos e trazer os beija-flores, Ane deu-se por completa, trouxe luz, harmonia e teve imensa paciência, ficava na espera que suas sementes fossem  brotar daquele solo seco e infértil.
Nada acontecia, Ane estava perdendo suas forças e nem percebia.
Insistia tanto em um alguém, que foi se esquecendo.
Foi se apagando.
Tornava-se um fruto da decepção.
Após tanto esperar, nada aconteceu , ela quase adoeceu por completa.
Ane demorou um longo tempo para se recuperar, mas como tempo percebeu que alguns solos (corações) são tão áridos que nem mesmo com paciência, cuidado e insistência podem reviver, se tornar férteis a um novo  amor.

Existem coisas que estão tão perdidas que mesmo sendo preenchidas ( aparentemente ) continuam vazias. 

Texto escrito por Andréia Freire.
Imagem retirada do site: We Heart It.