Partiste

Surgiu a partida, após a conquista, pois depois de conquistado não há mais o que fazer, admirar o que foi conquistado com o tempo cansa, perde a beleza. E então partimos em busca de novas terras, e o que foi conquistado fica ali abandonado a solidão.
E meu bem,  a dor é muito mais forte para quem fica, pois quem parte vê novos horizontes, e quem fica vê apenas as cinzas do que foi e não será mais.
Olhar novos horizontes se torna extremamente belo,  quando chegamos a nova terra, que ira ser conquistada, sentimos a vigorosa brisa de renovação, usamos nossos truques e o mais belo palavreado, as mesmas antigas artimanhas,  cercamos a nossa nova terra adorada de atenção, sem nem mesmo ter um resquício em mente do que foi deixado para trás.
E quando perguntados de onde viemos, somos de lugar nenhum, para tornarmos aquele lugar mais especial ainda.
Após as duas palavras finais, tão esperadas, estamos partindo novamente.

Somos nômades de corações.

Escrito por Andréia Freire.
Imagem retirada do site We heart It.

O vazio persiste

Mesmo sabendo de todo desamor que habitava ali, Ane insistiu. Sentia-se capaz de afastar a dor, as lamentações e tornar aquele  um solo fértil. Decidida a afastar os corvos e trazer os beija-flores, Ane deu-se por completa, trouxe luz, harmonia e teve imensa paciência, ficava na espera que suas sementes fossem  brotar daquele solo seco e infértil.
Nada acontecia, Ane estava perdendo suas forças e nem percebia.
Insistia tanto em um alguém, que foi se esquecendo.
Foi se apagando.
Tornava-se um fruto da decepção.
Após tanto esperar, nada aconteceu , ela quase adoeceu por completa.
Ane demorou um longo tempo para se recuperar, mas como tempo percebeu que alguns solos (corações) são tão áridos que nem mesmo com paciência, cuidado e insistência podem reviver, se tornar férteis a um novo  amor.

Existem coisas que estão tão perdidas que mesmo sendo preenchidas ( aparentemente ) continuam vazias. 

Texto escrito por Andréia Freire.
Imagem retirada do site: We Heart It.


O naufrago.



Naufragamos, navegamos certos de um encontro e só estamos.  Ficamos a deriva da vida, que segue um fluxo inesperado, quando achamos estarmos próximos, mais nos afastamos.
 Mais vazios carregamos em nossos navios.
Saímos a muito tempo de nossos portos seguros, para encontrarmos apenas tempestades, que nos levaram para mares desconhecidos, cheios de nada. Mas navegávamos com ânsia de nos vermos.
Carregamos tantas esperanças e as perdemos nas ondas violentas do mar da infelicidade.
Não avistamos terras seguras onde poderíamos ancorar, somente ilhas de afeto momentâneo. E estas ilhas nos atrasarão ainda mais.
Quando estávamos perto do cais, o vento nos levava em direção contraria. Tudo conspirava contra nós.
Talvez se tivéssemos regressado quando fomos saqueados pelos primeiros piratas que encontramos, estivéssemos com mais afeto hoje. Mas pela nossa insistência, hoje somente restaram para nós lamentações e uma distancia terrena que se torna mórbida aos nossos olhos.

Quando naufragamos fomos salvos pelas mesmas ondas que levarão nossas esperanças, esta que ainda nos mantém aqui, a espera de que algum dia, um de nós volte a navegar e possamos nos encontrar em uma quarta-feira comum do mês de agosto perto ao porto. Mas por enquanto ficamos a sós com nossos desgostos e desamores, sem nem ao menos sabermos onde é que estamos ancorados, onde devemos nos procurar? 

Texto escrito por Andréia Freire.
Imagem retirada do site We Heart It.