Intensa era a palavra que melhor a definia, e talvez por
isso tinha medos exagerados.
Tinha mania de perseguição e talvez não fosse apenas mania,
era o trauma que carregava, que levaria pelo resto de sua existência terrena.
Aquele homem repugnante tentando sufoca-la com suas
mãos, o peso das mãos, a força bruta. As marcas que aquele ato deixou no rosto
e na mente dela.
Eram lembranças que levaria consigo, até onde a memória
poderia lhe acompanhar. E por tal aguardava a velhice com ansiedade, para
esquecer, ser abençoada com Alzheimer e por fim nas memórias trágicas que a
acompanhavam dia após dia.
Todos ao seu redor tinham conhecimento do abuso que
sofreu, poucos realmente acreditavam que ela era a vitima, a maioria acreditava
que ela havia provocado tal coisa.
Por tanto ela deixou de se importar, passou a ignorar os
comentários maldosos. Mas por vezes doía saber que pessoas que ela
estimava, acreditavam que ela era culpada, que a vitima era o causador de tanta
dor e angustia.
A noite e as ruas vazias que outrora eram calmaria, se tornaram
paranoia, em cada beco, esquina sem iluminação ela podia ouvir passos, sentir
pessoas se aproximando, pessoas tentando sufoca-la, mas nada estava
lá. Somente o pânico, a dor, a fobia, a paranoia, o trauma.
Sugeriram aos seus pais logo no inicio que a levassem a um
psicólogo, mas ela se recusou e eles não insistiram. Ela preferiu não se
aprofundar naquilo, mas aquilo sempre estava pairando sobre sua mente.
Ela tentava evitar, mas a lembrança, o horror, estavam sempre lá,
ao seu lado, talvez como uma forma de alerta. Alertando-a sobre qualquer
tipo de aproximação masculina.
A sua vida havia se tornando um filme de terror, daqueles que ela
sempre evitou assistir e agora presenciava em sua vida.
A arte imita a vida, essa era sua conclusão de todos os dias.
Mesmo sabendo que por vezes estava protegida, ela não conseguia
sentir-se assim, sentia que a qualquer momento alguém a atacaria, em sua casa
quando estava sozinha mesmo com as portas e janelas trancadas.
A qualquer momento um homem com o dobro do seu tamanho e força
conseguiria terminar, o que outro havia começado.
O trauma, o medo, o bloqueio, o horror que carregava eram mais
fortes do que tudo que lhe poderiam dizer, do que toda segurança que poderiam
lhe garantir e mesmo assim para maioria ela não era a vitima.
E dia após dia ela se multiplica por ai.
Escrito por Andréia Freire.